domingo, 23 de março de 2014

Encontrando Nemo





Seguem os perfis dos autores do El Fanzine, agora com Rodrigo Nemo.

"Tá falando comigo?"

Onde você nasceu e onde mora hoje?

Nasci e moro no Rio de Janeiro (RJ), mas já morei em Niterói (RJ) e Brasília (DF).

Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

Rodrigo Nemo é só amor e fofura,
como o peixinho acima
A primeira coisa que li na vida foi um livro ilustrado do Walt Disney, com Pato Donald, os sobrinhos e Tio Patinhas no Rio Amazonas em busca de um rubi ou uma esmeralda, não lembro. Lembro porém do desenho de uma serpente gigantesca, uma precursora da Anaconda, atacando o barco dos protagonistas no Rio Amazonas. Acho que o desenho era do Carl Barks.

Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

A partir daí, li muito Walt Disney, foi o que mais li na infância. Na pré-adolescência, mudei para Marvel e DC, lendo X-Men, Novos Titãs, Vingadores, Liga da Justiça, Demolidor, Capitão América, Pantera Negra, Mestre do Kung Fu, Justiceiro, Luke Cage e Punho de Ferro (Heróis de Aluguel)...  Descobri também Conan, que foi o gibi que colecionei de verdade por mais tempo. Tinha quase todas "A Espada Selvagem de Conan". Parei de comprar quando os grandes desenhistas, como Barry Windsor-Smith e John Buscema, pularam fora e os roteiros começaram a piorar muito (já tinham esgotado as adaptações de Robert E. Howard).
"Jim Lee? Você disse JIM LEE?"
"Jim Lee? Argh, meus olhos, meus olhos!"
Larguei os super-heróis no início dos anos 1990, quando os caras que fundaram a Image dominaram o mercado. Eu odiava todos eles, até o amado Jim Lee (aka Jim LIXO). Depois comecei a pular de galho em galho atrás de novidades. Lembro de uma série de gibis que incluia Sable, Grimjack e American Flagg. Passei a ler também uma nova versão do Fantasma, com bons roteiros do Mark Verheinden e desenhos ruins do Luke McDonnel. Até que encontrei Corto Maltese e Blueberry. Corto chegou a mim pelo meu pai, que trouxe um de viagem de Portugal, traduzido para o português lusitano (A Balada do Mar Salgado, um dos melhores gibis da história do universo), e dali em diante passei a perseguir o personagem de Hugo Pratt. Já Blueberry começou a ser publicado em bancas no Brasil e colecionei até o último número publicado na época.
Depois disso, colecionei a série francesa Arthur, Losers, Local e o que saiu de Queen and Country, todas muito boas.
Fale bem da Image e do Jim Lee perto do Nemo e ele reagirá assim.

Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Gibi novo, não, só releio o que comprei ou baixei ilegalmente há algum tempo (entre os quais coisas como Fury Max, Demo, O Cume dos Deuses, The Activity, Hawkeye do Matt Fraction e David Aja, coisas do Marcelo Quintanilha etc).


Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

Nemo ao ver um gibi da Image
El Fanzine... não, sacanagem. Fora de ordem: A Balada do Mar Salgado (Hugo Pratt); Watchmen (Alan Moore e David Gibbons); Homem Animal (o arco de histórias com roteiro de Grant Morrison);  Jar of Fools (Jason Lutes), Black Hole (Charles Burns); Batman: Ano Um (Frank Miller e David Mazzuchelli); A Queda de Murdock (Frank Miller e David Mazzuchelli de novo), Um Bairro Distante (Jiro Taniguchi); Queen & Country (Greg Rucka e vários desenhistas) e Summer Blonde (Adrian Tomine).
Hoje são esses. Pode ser que amanhã eu mude de idéia ou lembre de algum que esqueci.

Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

"O Rob Liefeld já foi. Agora só falta você, Jim Lee, seu filho da puta!"
Comecei em 2008, quando frequentava o curso de Quadrinhos da escola Impacto do Rio, em Botafogo. Comecei justamente com o El Fanzine, fundado ali com os colegas ABC e Tito Camello, que continuam no gibi, e F. Montenegro e Jailson Chagas, que já saíram. Até então tinha desenhado somente em canto de página de livros e cadernos escolares, mas nunca uma história inteira digna do nome. Abandonei o curso no meio, mas o El Fanzine acabou sobrevivendo.
Paticipei de todas as edições do El Fanzine. Ilustrei roteiros de Vagner Francisco, A. Moraes, Gian Danton e Maurício Santoro. Colaborei também com Leonardo Santana, mas acho que o projeto - que envolvia vários desenhistas - desandou. Disponibilizei gratuitamente algumas das minhas histórias no site Quadrinhópole. Estou trabalhando em mais uma HQ com Vagner Francisco, uma com Leonardo Mello e uma com Alexandre Lobão, todas atrasadas por culpa minha...

Consegue listar suas principais influências?

Vou esquecer alguns, outros ainda nem conheço, outros gosto demais mas acho que não chegam a influenciar o que faço, mas é mais ou menos isso: as principais talvez sejam Frank Miller, Hugo Pratt, Will Eisner, Robert Crumb, Charles Burns, Hergé, Moebius, George Perez, Jaques Tardi, John Buscema, Mike Zeck, Eduardo Risso, Roberto Raviola (Magnus)...
No cinema, gente como Sam Peckinpah, Martin Scorsese, Sergio Leone, David Cronenberg, John Ford etc.
Nas artes plásticas, vários, mas cito só o Edward Hopper (gênio!) pra não parecer pretensioso já que não chego aos pés deles.
Na literatura, vários, mas são tão melhores do que eu que dá até vergonha de citar.
Isso não quer dizer que o talento desses caras apareça no que eu faço. Provavelmente eles limpariam a bunda com minhas páginas.

Alguma mania na hora de fazer quadrinhos?

Acho que o fato de raramente desenhar mais do que um quadrinho por dia e mesmo assim nunca dois quadrinhos em uma mesma página, sempre cenas diferentes em páginas diferentes, bem distantes entre si no roteiro original. Também uso pouco o lápis, esboço muito toscamente cada cena e passo direto para o nanquim. Além disso, dificilmente uso referências, a não ser que tenha que desenhar algo bem específico de algum universo ficcional ou período histórico.
Também não escrevo roteiros, penso no roteiro de uma forma meio vaga e vou ilustrando, quase no improviso.  Gosto de pensar em roteiros no ônibus ou correndo, sempre fazendo outra coisa. E gosto de desenhar com a TV ligada.  Música me distrai, eu paro de desenhar pra ouvir, batucar ou cantar junto, é foda.

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