quinta-feira, 27 de março de 2014

Camello, bicho solto!

Seguem os perfis dos autores, agora com Tito Camello:


  Onde você nasceu e onde mora hoje?

Não, Camello não é fã do xará Marcelo, mas
piada pronta é como gol feito: não se perde
Sou um sulista quase cigano – filho de um gaúcho com uma paulista – que já morou em quase todas as regiões do Brasil, e que atualmente reside em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Com pretensões pouco realistas de um dia morar na lua.



Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

Autorretrato de Tito Camello
Lembro da minha mãe lendo livros infantis pra mim quando eu era bem pequeno, uma daquelas coleções da Disney compradas com vendedores que passavam de porta em porta oferecendo enciclopédias, prática muito comum no passado e já quase totalmente esquecida na era da internet. Passei a ler gibis da Disney quando era criança (e outros infantis, como o gibi dos Trapalhões, por exemplo), mas não consigo me recordar exatamente qual foi o primeiro. Provavelmente algum do Mickey ou do Pato Donald...



Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

Camello no tempo em que
rabiscava as mesas em vez de
trabalhar no bar do pai
Um cara chamado "Camello"
serviu na Marinha. Vai entender.
Ainda na infância quase pré-adolescência, comecei a curtir bastante as aventuras do Super Pato, do Morcego Vermelho, do Cartola Mascarado e outros heróis Disney. Daí para os quadrinhos Marvel/DC foi um pulo. Lembro bem do primeiro gibi de heróis que comprei: A teia do Aranha #7 (em que o aracnídeo passa um sufoco nas mãos do Rei do Crime), publicado pela Abril em 1990, se não me engano. Eram histórias do período clássico do herói, escritas por Stan Lee e desenhadas por John Romita e John Buscema. Eu devia ter uns 8 ou 9 anos nessa época. Fiquei louco com aquele gibi. Eu queria desenhar daquele jeito e comecei a rabiscar o Aranha em tudo o que era lugar, dos cadernos escolares às toalhas de papel que cobriam as mesas do bar do meu pai. Passei a comprar muitos outros gibis depois, da Marvel e da DC, e colecionar alguns deles. Lembro que comprei todas as edições de X-Men no começo dos anos 90, e quase todas dos Novos Titãs, da fase Wolfman/Grummet. Em 1994, meus pais me presentearam com uma assinatura da Editora Abril. Eu recebia num pacote verde 6 gibis Marvel todo mês, e por dois anos seguidos, recebi todas as edições do Homem-Aranha, Capitão América, X-Men, Superaventuras Marvel, Hulk e Wolverine. Eu adorava receber aquele pacote. Nesse meio tempo, ia lendo outras coisas também: Conan, Fantasma, Akira, os gibis da Image, da Vertigo, gibis derivados de filmes,
"Tá caro pra caralho, hein? E tá uma merda.
Melhor o El Fanzine, que é bom e barato"
videogames e RPGs, alguns títulos europeus que saíam no Brasil, como o Tex, Mister No, Nick Raider, Dylan Dog e Martin Mystère... eu lia de tudo que caia na mão. Até que, no final dos anos 90, a Abril reformulou sua linha de gibis Marvel/DC, lançou a famigerada Série Platinum com gibis caríssimos para os padrões da época que, somados à péssima qualidade do material que era produzido nos EUA, me fizeram deixar de colecionar quadrinhos. Passei a comprar apenas uma coisa ou outra e, em 2001, ao ingressar nas forças armadas, perdi de vez o hábito de ler gibis e de desenhar.
Minha vida estava tomando outros rumos. Só em 2008 eu voltei a ler HQs e a desenhar, quando por curiosidade passei a frequentar o curso de Quadrinhos da escola Impacto RJ.


"Isso aqui não é nada, tinha que ver
como ficou o outro cara depois de falar
que preferia ler gibi em tablet"
 Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Sim, leio alguns. Mas com parcimônia. E só aos finais de semana. Não concordo com essa teoria de que tudo o que se publica hoje no mainstream é ruim. Tem coisa boa por aí, mas é preciso garimpar. Dos títulos mensais que saem no Brasil, estou lendo o gibi do Capitão América (mais por causa do Gavião Arqueiro, de Matt Fraction e David Aja, do que as histórias do Capitão, que estão sofríveis) e Universo Marvel (mais por conta do Hulk, de Mark Waid e Leinil Yu, e do FF, de Fraction e Mike Allred). Mas confesso que tenho dificuldades em acompanhar os mensais porque saem nas bancas com mais velocidade do que consigo comprar. Leio também o Demolidor, de Waid e Paolo Rivera, os títulos da Valiant que estão sendo lançadas pela HQM, os quadrinhos nacionais de autores como Danilo Beyruth e Rafael Coutinho, e estou comprando alguns encadernados importados que não são lançados no Brasil. E tudo isso em papel mesmo. Não aderi às massas que baixam scans porque sou velho e gosto do cheiro da tinta impressa no papel do gibi. Quando conseguirem emular esse cheiro nas tablets, talvez eu passe a aderir.


Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

Difícil responder essa. Mas vou tentar elencar alguns aqui, conforme vou me lembrando: Homem-Aranha (fase escrita por Stan Lee e desenhada por John Romita e John Buscema. Nenhum outro gibi conseguiu superar esse...), Watchmen; Maus; Thor: a saga de Surtur; Homem-Animal (fase Morrison); Batman: a piada mortal; Vagabond (o único mangá que eu respeito); Planetary; e Shade: o homem-mutável.
Esses são os que consigo lembrar agora, mas dá pra citar muitos outros (Demolidor: a queda de Murdock; Jimmy Corrigan; Novos Titãs: o contrato de Judas; Conan Rei; Akira; a minissérie Wolverine e Kitty Pride; American Flagg; Conflito no Vietnã...a lista é grande.)


E pensar que um dia o jovem Camello achou que quadrinhos
o ajudariam com as mulheres. SABIA DE NADA, INOCENTE!
Até o método da foto acima tem mais garantias de sucesso.
Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

Eu desenho desde que consigo me lembrar. Fazia desenhos de super-heróis pros amigos do colégio e a tarefa das aulas de educação artística pras meninas, na vã esperança de me dar bem com elas (ah, a ingenuidade juvenil...) Na adolescência, cheguei a desenhar umas histórias nas folhas dos cadernos escolares com personagens de um amigo meu, e lancei uma revista interna que durou dois números com histórias de sacanagem e zoação junto com colegas no quartel, quando era militar. Mas nunca havia feito quadrinhos independentes até o dia em que me juntei com alguns amigos do curso de HQs da Impacto – parceiros da roda de cerveja de sábado pós-aula – para criarmos o EL FANZINE. Foi meu debut (Hummm, boiola!) no mundo louco e trabalhoso dos quadrinhos independentes. Assim como o Rodrigo Nemo e o ABC, participei de todas as 3 edições do ELF. Ilustrei depois duas histórias para o Vagner Francisco, ambas de seu personagem Val – sendo uma delas publicada no ELF3 – e tem outro roteiro dele que vou desenhar saindo do forno. Desenhei para um projeto que ainda não saiu(e nem sei se vai sair um dia!) do roteirista Leonardo Santana. No momento, estou desenhando um roteiro do Leonardo Mello e uma outra história minha para o EL FANZINE 4.

Camello recorda o nascimento do ELF nos
sábados no bar (só que a bebida não era Coca-cola)
"Ah, as alegrias que os
quadrinhos proporcionam..."

Consegue listar suas principais influências?

Moleza: Rob Liefeld...ops! Brincadeira. Acredito que acabamos sendo influenciados de alguma forma por quase todos os artistas que gostamos, mas dá pra citar alguns nomes. Nos quadrinhos: John Buscema, Garcia-López, John Byrne, Jim Aparo, John Romita, Arthur Adams, Rick Leonardi, Walt Simonson, Seth Fisher e muitos outros. No cinema: Ridley Scott, Sergio Leone, Bruce Lee (sim, ele também era diretor), Alejandro Gonzales Iñárritu, David Fincher, Nicholas Ray, Michael Mann, Danny Boyle e muitos outros. Na literatura só vou citar um, que não tem pares: Guimarães Rosa.

Alguma mania na hora de fazer quadrinhos?

Trabalhador só desenha uma página
por semana E OLHE LÁ!!!

"Estou pensando num roteiro agora. E
lutando pra ficar acordado até o fizzzz..."
Algumas particularidades no processo. Gosto de desenhar ouvindo músicas (normalmente, possuo uma boa capacidade de concentração, de modo que barulhos externos, baderna, televisão, vizinhos quebrando o pau na casa ao lado, nada disso me incomoda quando estou na prancheta). Gosto de usar referências, porque deixam meus desenhos mais naturais e mais realísticos. Costumo me fotografar para usar de referência em algumas poses quando o personagem é masculino e fotografar minha esposa quando é feminino. Penso nos meus roteiros na hora de dormir, antes de pegar no sono. É a hora que consigo organizar minhas ideias e pensar com mais clareza. E não escrevo o roteiro, parto logo para os thumbnails e para a página. No máximo, faço anotações sobre a história ou escrevo um diálogo ou outro numa folha qualquer para não esquecer. Não uso mais o lápis desde que descobri o grafite azul, que uso para esboçar antes de partir direto pra arte-final. Com isso, ganho tempo por não ter que ficar apagando os rabiscos embaixo da tinta. E ganhar tempo é fundamental pra mim, já que sou lento pra desenhar. Dificilmente consigo fazer mais de uma página A3 por semana (até porque só desenho nas horas de folga, que não são muitas. Vida de proletário é dureza...).
"Tenho twitter, Instagram,
a porra toda."

Como fazer para seguir você na Internet?

Meu e-mail é titocamello@gmail.com. Mas sou figurinha fácil no Twitter e no Instagram (@titocamello para ambos).

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