segunda-feira, 31 de março de 2014

ABC de A a Z

Continuam os perfis dos autores do El Fanzine, agora com ABC.


 Onde você nasceu e onde você mora hoje?

ABC é o único quadrinhista com música tema
Nasci no Rio de Janeiro e continuo no Subúrbio.

Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

É complicado explicar o primeiro contato, pois, desde que me reconheço como eu, leio quadrinhos. Talvez, o mais antigo que me vem a memória, fossem quadrinhos da Disney (numa época áurea aonde se adquiria formatinhos com mais de 5 histórias e que ainda vinham com QUIZ com a resposta na revista do mês seguinte.) Lembro que lia todos: Zé Carioca, Mickey Detetive, Pateta & figurantes e, claro, Donald.


Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

O Rei do Futebol homenageia o Príncipe dos Quadrinhos
Meus hábitos de leitura com quadrinhos se misturam demais com os meus hábitos de leitura de filmes. Eu e meu irmão não recebíamos “mesada”. Entramos num acordo com meu pai no qual ele alugaria filmes e nos compraria quadrinhos todo final de semana. Daí começamos a colecionar X-men, Homem-Aranha, Marvel, Batman, Superman; e nos intervalos de leitura assistíamos os VHS alugados. Colecionamos os quadrinhos até o Homem Aranha ficar com um colete azul, e o Superman morrer numa batalha de um quadrinho com a capa metálica.
Após essas decepções, que marcaram demais nossas infâncias, nos fixamos nos VHS. Quando acabamos de assistir tudo da locadora e os gibis se tornaram chatos  e com muitos esteróides, mudamos nossos hábitos. Compramos um aparelho de DVD, mudamos de locadora, e começamos a colecionar Mangás:  Yuyu Hakusho, Ruroubi Kenshin, Sakura CC, Dragon Ball, Vagabond, Evangelion, Love Hina, One Piece...
"ABC, ABC, toda criança tem que ler e escrever!"
Quando os Mangás inflacionaram, e na locadora acabaram os filmes novamente, partimos pra uma pausa – mais do que merecida. Fomos aprender violão (já éramos adolescentes). Nosso professor de violão, coincidentemente, era um fanático por gibis de super heróis e nos perguntou se queríamos a caixa de velharia dele. Então basicamente recebemos em casa uma coleção de toda Marvel e DC da década do final da década de 70, toda década de 80 e um pouco dos 90, bem como Spawn, Vertigo, Conan e alguns Spirits...
Ele me incentivou a voltar a desenhar (ele também desenhava) e me chamou atenção para a assinatura dos artistas (até esse momento eu não sabia que as pessoas poderiam trabalhar com quadrinhos).
Depois desse incentivo, o fim do acervo de uma locadora, a inflação dos quadrinhos, parti para a práxis que mantenho até hoje: Downloads.

Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Não, sou muito chato com séries. Gosto mais de volumes fechados. Compro muitas Graphic Novels, e, as vezes, raríssimas vezes, compro aquelas compilações de séries que eles vendem como “Graphic Novels”.
De série mesmo, sou fã só de “El Fanzine”.
Entre uma compra e outra, também mantenho o costume de pegar emprestado quadrinhos que não tenho coragem de comprar... e esqueço de devolver...

Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

Não que estejam numa ordem, ok? Seriam: Um Contrato com Deus, Maus, Piada Mortal, Watchmen, Valentina, O Reino do Amanhã, Rurouni Keshin, Reinventando os Quadrinhos, Batman Ano UM, Yuyu Hakusho.

Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

Depois que esse meu antigo professor de violão me incentivou a voltar a desenhar, como pobre morador do subúrbio (leia-se: Cascadura/Rio de Janeiro) fiz o que sabia fazer: downloads.
Infelizmente não existia acervo de bons livros em português (para serem ilegalmente adquiridos pela internet), somente em inglês. Daí, peguei a grana que eu tinha (uns 30 reais – que hoje deve ser uns 94,75 reais), fui num sebo em Madureira e comprei três gramáticas de Inglês/inglês. Li a iniciante, fiz os exercícios; li a intermediaria e fiz os exercícios, li a avançada e não consegui fazer NADA... Fui ver se o que tinha aprendido já era suficiente para ler o que queria, e era!!! (esse processo durou uns 3 meses – greve da UERJ 2006).
ABC é citado em cena do filme "O
sucesso a qualquer preço"
Daí em diante, comecei a adquirir ilegalmente através da internet todo tipo de literatura sobre quadrinhos: Andrew Loomis, Scott Mclloud, Will Eisner, Stan Lee e Buscema, George Bridgman, Burne Hogarth, Gwen White, George White, Pat Duke e Greg Capullo... foi muito produtivo. No mesmo ano, ganhei de uma ex namorada o tal “Guia DC comics (desenhos e roteiro)” e também me deram uma luz.
Dois anos de estudo depois, dei um golpe de sorte com um edital na faculdade e faturei 2 mil reais em um mês de trabalho (com a inflação, isso deve ser mais ou menos 75 mil reais hoje =P). Peguei a grana TODA e paguei UM ANO de curso de História em Quadrinhos (o único curso com alguma visibilidade e seriedade no Rio de Janeiro. O slogan de “promessa de contrato e agentes nos EUA” foram um chamariz... mas, algumas semanas bastaram para notar alguns aspectos não divulgados sobre o curso:
- A maior parcela que frequentava o curso era de gente que discutia sobre a cor da cueca do Superman que era bem mais vermelha do que todo o uniforme do Daredevil, ou que o Flash sempre ganharia uma disputa de Jokenpo contra o Sonic e o Papaléguas... enfim, discussões que eram severamente entendiantes, mas eles levavam a sério;
Convenção de fãs do quadrinhista ABC nos EUA (ABC Con)
- Todos os estudos do curso (anatomia, atrofia, poses de ação, cenas de ação) eram voltados para o quadrinho de super herói. Foram alguns meses de tormenta naquele lugar, até que esbarrei com os 4 Muchachos do El Fanzine (um integrante saiu – F. Montenegro -, por isso agora somos oficialmente só 4). Tínhamos interesses comuns que não se afinavam com o restante das pessoas do curso. Nós curtíamos autores norte americanos que sabiam contar uma história sem ninguém precisar usar colant, além de europeus.
Naquela mesa começamos a planejar a idéia do primeiro EL FANZINE. Nossa primeira edição foi em 2008 (no final do mesmo ano em que me matriculei). Nossa produção foi em fotocópia (nem vou comentar a sórdida desventura de Tito Camello para conseguir tirar xerox dos nossos exemplares a preço de seu emprego), grampeada a 5 mãos, guilhotinada com tesoura de costura e vendida a 1 real (que hoje seria mais ou menos 9,50 reais). Uma tiragem de 100 exemplares e sucesso absoluto, nenhuma sobra (nem mesmo as nossas!). Virou lenda!
Depois disso já produzi nos quadrinhos independentes:
- El Fanzine (todos os volumes);
- Projeto FDP (nunca publicado, ainda aguardando outros desenhistas enviarem suas páginas – isso já fazem 4 anos!);
- Gonzaga Duque e os Salões de Arte Brasileiros no séc XIX (projeto de faculdade);
- Menina Flor (um projeto independente sobre meio ambiente que está em editais mundo a fora);
- In my Life (tirinha sobre o cotidiano de minha humilde pessoa que publico no facebook);
- Zumbis no Futuro (um roteiro de Leonardo Melo, aonde produzo a terceira parte. A primeira “Zumbis no Velho Oeste” ficou por conta do Titto, e a segunda “Zumbis na Era das Gangues” está nas mãos do Nemo).
É uma lista pequena, de quase 0 publicações, mas é de coração.

Consegue listar suas principais influências?

Complicado isso... me influencio por tudo. Vou listar aleatoriamente entre filósofos, roteiristas, diretores, pintores, romancistas e etc... Quando produzo uma história começo o máximo de repertório que puder. Ver como já trabalharam, e o que já funcionou... aí vai: Aristóteles, Machado de Assis, Hitchcock, Eiseinstein, Guido Crepax, Jean Giraud, Charlie Kaufman, Syd Field, Robert Mckee, Karel Reisz, Miró, Israel Pedrosa, Kandinsky, Michelangelo, Bernini, John Williams, Ingmar Bergman, Santo Agostinho, Bíblia, Mestre Will Eisner, Brune Hogart, Adrew Loomis, Mignola, Klaus Jason, Neil Gaiman, Mike Deodato (pós década de 90), Milo Manara, Serpieri, Marjani Satrapi, Frank Cho, Mestre Stan Lee, Art Spielgman, Fritz Lang, John Ford, Woody Allen, Mario Bortolotto, Alejandro Jodorowsky, Oswald de Andrade, Nam June Paik, Scorsese, Spielberg, (Darren) Aronofsky, Cronenberg, Kubrick, Robert Crumb, Kerouac, George Martin. Tenho problemas de prolixia, não tenho foco...




Alguma mania ou peculiaridade na hora de produzir quadrinhos?

Sim! Sou prolixo, não sei fazer resumos... meu processo é extremamente lento. Tedioso, depressivo, alegre...
Primeira parte:
Tenho uma idéia, fico pensando nela semanas e criando coragem para escrever. Quando crio um documento em branco no word (normalmente) escrevo numa tacada só – faço um conto. Revisito esse conto algumas vezes, e quando acho que está bom envio para alguns amigos nos quais confio na opinião. Recebo o feedback e altero alguns pontos.
Segunda parte:
Grifo os diálogos e começo a planejar todos os thumbnails. Normalmente eu faço dois para cada página e vou marcando no conto os trechos que vão entrar como dialogo e os que vão entrar como imagem.
Terceira parte:
Começo a fazer uma decupagem e procurar imagens e textos que me ajudem. Saio pra bater fotos, cato coisas no google, compro livros, faço perguntas a professores da faculdade que ainda mantenho contato e monto um banco de dados... um gatilho para começar a desenhar...
Quarta parte:
Momento de depressão profunda aonde encaro a folha em branco e acho que não vou conseguir...
Quinta parte:
Vou fazer outra coisa da vida...
Sexta Parte:
Decido que não consigo fugir de quadrinhos e volto a produzir. Depois que faço a primeira página eu me auto critico (sempre) positivamente: Nossa! Até que eu levo jeito!! E prossigo até a última página num ritmo alucinante, como se não houvesse amanhã!!!
Nâo é um adeus, mas um até breve:
ABC estará de volta em El Fanzine 4
Finalizo no computador e envio pra aqueles amigos pra ter um feedback novamente.
Sétima Parte:
Descanso.
Tenho o costume de pensar em vários projetos ao mesmo tempo, e, normalmente, quando termino um, já tenho ideias para um próximo.

Como seguir você na Internet?

Pelo blog, facebook e twitter do El Fanzine, ou pelo meu blog (donebyabc.blogspot.com) e twitter: @cordeiro_abc.
EXCELSIOR!!

quinta-feira, 27 de março de 2014

Camello, bicho solto!

Seguem os perfis dos autores, agora com Tito Camello:


  Onde você nasceu e onde mora hoje?

Não, Camello não é fã do xará Marcelo, mas
piada pronta é como gol feito: não se perde
Sou um sulista quase cigano – filho de um gaúcho com uma paulista – que já morou em quase todas as regiões do Brasil, e que atualmente reside em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Com pretensões pouco realistas de um dia morar na lua.



Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

Autorretrato de Tito Camello
Lembro da minha mãe lendo livros infantis pra mim quando eu era bem pequeno, uma daquelas coleções da Disney compradas com vendedores que passavam de porta em porta oferecendo enciclopédias, prática muito comum no passado e já quase totalmente esquecida na era da internet. Passei a ler gibis da Disney quando era criança (e outros infantis, como o gibi dos Trapalhões, por exemplo), mas não consigo me recordar exatamente qual foi o primeiro. Provavelmente algum do Mickey ou do Pato Donald...



Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

Camello no tempo em que
rabiscava as mesas em vez de
trabalhar no bar do pai
Um cara chamado "Camello"
serviu na Marinha. Vai entender.
Ainda na infância quase pré-adolescência, comecei a curtir bastante as aventuras do Super Pato, do Morcego Vermelho, do Cartola Mascarado e outros heróis Disney. Daí para os quadrinhos Marvel/DC foi um pulo. Lembro bem do primeiro gibi de heróis que comprei: A teia do Aranha #7 (em que o aracnídeo passa um sufoco nas mãos do Rei do Crime), publicado pela Abril em 1990, se não me engano. Eram histórias do período clássico do herói, escritas por Stan Lee e desenhadas por John Romita e John Buscema. Eu devia ter uns 8 ou 9 anos nessa época. Fiquei louco com aquele gibi. Eu queria desenhar daquele jeito e comecei a rabiscar o Aranha em tudo o que era lugar, dos cadernos escolares às toalhas de papel que cobriam as mesas do bar do meu pai. Passei a comprar muitos outros gibis depois, da Marvel e da DC, e colecionar alguns deles. Lembro que comprei todas as edições de X-Men no começo dos anos 90, e quase todas dos Novos Titãs, da fase Wolfman/Grummet. Em 1994, meus pais me presentearam com uma assinatura da Editora Abril. Eu recebia num pacote verde 6 gibis Marvel todo mês, e por dois anos seguidos, recebi todas as edições do Homem-Aranha, Capitão América, X-Men, Superaventuras Marvel, Hulk e Wolverine. Eu adorava receber aquele pacote. Nesse meio tempo, ia lendo outras coisas também: Conan, Fantasma, Akira, os gibis da Image, da Vertigo, gibis derivados de filmes,
"Tá caro pra caralho, hein? E tá uma merda.
Melhor o El Fanzine, que é bom e barato"
videogames e RPGs, alguns títulos europeus que saíam no Brasil, como o Tex, Mister No, Nick Raider, Dylan Dog e Martin Mystère... eu lia de tudo que caia na mão. Até que, no final dos anos 90, a Abril reformulou sua linha de gibis Marvel/DC, lançou a famigerada Série Platinum com gibis caríssimos para os padrões da época que, somados à péssima qualidade do material que era produzido nos EUA, me fizeram deixar de colecionar quadrinhos. Passei a comprar apenas uma coisa ou outra e, em 2001, ao ingressar nas forças armadas, perdi de vez o hábito de ler gibis e de desenhar.
Minha vida estava tomando outros rumos. Só em 2008 eu voltei a ler HQs e a desenhar, quando por curiosidade passei a frequentar o curso de Quadrinhos da escola Impacto RJ.


"Isso aqui não é nada, tinha que ver
como ficou o outro cara depois de falar
que preferia ler gibi em tablet"
 Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Sim, leio alguns. Mas com parcimônia. E só aos finais de semana. Não concordo com essa teoria de que tudo o que se publica hoje no mainstream é ruim. Tem coisa boa por aí, mas é preciso garimpar. Dos títulos mensais que saem no Brasil, estou lendo o gibi do Capitão América (mais por causa do Gavião Arqueiro, de Matt Fraction e David Aja, do que as histórias do Capitão, que estão sofríveis) e Universo Marvel (mais por conta do Hulk, de Mark Waid e Leinil Yu, e do FF, de Fraction e Mike Allred). Mas confesso que tenho dificuldades em acompanhar os mensais porque saem nas bancas com mais velocidade do que consigo comprar. Leio também o Demolidor, de Waid e Paolo Rivera, os títulos da Valiant que estão sendo lançadas pela HQM, os quadrinhos nacionais de autores como Danilo Beyruth e Rafael Coutinho, e estou comprando alguns encadernados importados que não são lançados no Brasil. E tudo isso em papel mesmo. Não aderi às massas que baixam scans porque sou velho e gosto do cheiro da tinta impressa no papel do gibi. Quando conseguirem emular esse cheiro nas tablets, talvez eu passe a aderir.


Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

Difícil responder essa. Mas vou tentar elencar alguns aqui, conforme vou me lembrando: Homem-Aranha (fase escrita por Stan Lee e desenhada por John Romita e John Buscema. Nenhum outro gibi conseguiu superar esse...), Watchmen; Maus; Thor: a saga de Surtur; Homem-Animal (fase Morrison); Batman: a piada mortal; Vagabond (o único mangá que eu respeito); Planetary; e Shade: o homem-mutável.
Esses são os que consigo lembrar agora, mas dá pra citar muitos outros (Demolidor: a queda de Murdock; Jimmy Corrigan; Novos Titãs: o contrato de Judas; Conan Rei; Akira; a minissérie Wolverine e Kitty Pride; American Flagg; Conflito no Vietnã...a lista é grande.)


E pensar que um dia o jovem Camello achou que quadrinhos
o ajudariam com as mulheres. SABIA DE NADA, INOCENTE!
Até o método da foto acima tem mais garantias de sucesso.
Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

Eu desenho desde que consigo me lembrar. Fazia desenhos de super-heróis pros amigos do colégio e a tarefa das aulas de educação artística pras meninas, na vã esperança de me dar bem com elas (ah, a ingenuidade juvenil...) Na adolescência, cheguei a desenhar umas histórias nas folhas dos cadernos escolares com personagens de um amigo meu, e lancei uma revista interna que durou dois números com histórias de sacanagem e zoação junto com colegas no quartel, quando era militar. Mas nunca havia feito quadrinhos independentes até o dia em que me juntei com alguns amigos do curso de HQs da Impacto – parceiros da roda de cerveja de sábado pós-aula – para criarmos o EL FANZINE. Foi meu debut (Hummm, boiola!) no mundo louco e trabalhoso dos quadrinhos independentes. Assim como o Rodrigo Nemo e o ABC, participei de todas as 3 edições do ELF. Ilustrei depois duas histórias para o Vagner Francisco, ambas de seu personagem Val – sendo uma delas publicada no ELF3 – e tem outro roteiro dele que vou desenhar saindo do forno. Desenhei para um projeto que ainda não saiu(e nem sei se vai sair um dia!) do roteirista Leonardo Santana. No momento, estou desenhando um roteiro do Leonardo Mello e uma outra história minha para o EL FANZINE 4.

Camello recorda o nascimento do ELF nos
sábados no bar (só que a bebida não era Coca-cola)
"Ah, as alegrias que os
quadrinhos proporcionam..."

Consegue listar suas principais influências?

Moleza: Rob Liefeld...ops! Brincadeira. Acredito que acabamos sendo influenciados de alguma forma por quase todos os artistas que gostamos, mas dá pra citar alguns nomes. Nos quadrinhos: John Buscema, Garcia-López, John Byrne, Jim Aparo, John Romita, Arthur Adams, Rick Leonardi, Walt Simonson, Seth Fisher e muitos outros. No cinema: Ridley Scott, Sergio Leone, Bruce Lee (sim, ele também era diretor), Alejandro Gonzales Iñárritu, David Fincher, Nicholas Ray, Michael Mann, Danny Boyle e muitos outros. Na literatura só vou citar um, que não tem pares: Guimarães Rosa.

Alguma mania na hora de fazer quadrinhos?

Trabalhador só desenha uma página
por semana E OLHE LÁ!!!

"Estou pensando num roteiro agora. E
lutando pra ficar acordado até o fizzzz..."
Algumas particularidades no processo. Gosto de desenhar ouvindo músicas (normalmente, possuo uma boa capacidade de concentração, de modo que barulhos externos, baderna, televisão, vizinhos quebrando o pau na casa ao lado, nada disso me incomoda quando estou na prancheta). Gosto de usar referências, porque deixam meus desenhos mais naturais e mais realísticos. Costumo me fotografar para usar de referência em algumas poses quando o personagem é masculino e fotografar minha esposa quando é feminino. Penso nos meus roteiros na hora de dormir, antes de pegar no sono. É a hora que consigo organizar minhas ideias e pensar com mais clareza. E não escrevo o roteiro, parto logo para os thumbnails e para a página. No máximo, faço anotações sobre a história ou escrevo um diálogo ou outro numa folha qualquer para não esquecer. Não uso mais o lápis desde que descobri o grafite azul, que uso para esboçar antes de partir direto pra arte-final. Com isso, ganho tempo por não ter que ficar apagando os rabiscos embaixo da tinta. E ganhar tempo é fundamental pra mim, já que sou lento pra desenhar. Dificilmente consigo fazer mais de uma página A3 por semana (até porque só desenho nas horas de folga, que não são muitas. Vida de proletário é dureza...).
"Tenho twitter, Instagram,
a porra toda."

Como fazer para seguir você na Internet?

Meu e-mail é titocamello@gmail.com. Mas sou figurinha fácil no Twitter e no Instagram (@titocamello para ambos).

HISTORIETA DE QUINTA 16

Por Tito Camello.

domingo, 23 de março de 2014

Encontrando Nemo





Seguem os perfis dos autores do El Fanzine, agora com Rodrigo Nemo.

"Tá falando comigo?"

Onde você nasceu e onde mora hoje?

Nasci e moro no Rio de Janeiro (RJ), mas já morei em Niterói (RJ) e Brasília (DF).

Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

Rodrigo Nemo é só amor e fofura,
como o peixinho acima
A primeira coisa que li na vida foi um livro ilustrado do Walt Disney, com Pato Donald, os sobrinhos e Tio Patinhas no Rio Amazonas em busca de um rubi ou uma esmeralda, não lembro. Lembro porém do desenho de uma serpente gigantesca, uma precursora da Anaconda, atacando o barco dos protagonistas no Rio Amazonas. Acho que o desenho era do Carl Barks.

Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

A partir daí, li muito Walt Disney, foi o que mais li na infância. Na pré-adolescência, mudei para Marvel e DC, lendo X-Men, Novos Titãs, Vingadores, Liga da Justiça, Demolidor, Capitão América, Pantera Negra, Mestre do Kung Fu, Justiceiro, Luke Cage e Punho de Ferro (Heróis de Aluguel)...  Descobri também Conan, que foi o gibi que colecionei de verdade por mais tempo. Tinha quase todas "A Espada Selvagem de Conan". Parei de comprar quando os grandes desenhistas, como Barry Windsor-Smith e John Buscema, pularam fora e os roteiros começaram a piorar muito (já tinham esgotado as adaptações de Robert E. Howard).
"Jim Lee? Você disse JIM LEE?"
"Jim Lee? Argh, meus olhos, meus olhos!"
Larguei os super-heróis no início dos anos 1990, quando os caras que fundaram a Image dominaram o mercado. Eu odiava todos eles, até o amado Jim Lee (aka Jim LIXO). Depois comecei a pular de galho em galho atrás de novidades. Lembro de uma série de gibis que incluia Sable, Grimjack e American Flagg. Passei a ler também uma nova versão do Fantasma, com bons roteiros do Mark Verheinden e desenhos ruins do Luke McDonnel. Até que encontrei Corto Maltese e Blueberry. Corto chegou a mim pelo meu pai, que trouxe um de viagem de Portugal, traduzido para o português lusitano (A Balada do Mar Salgado, um dos melhores gibis da história do universo), e dali em diante passei a perseguir o personagem de Hugo Pratt. Já Blueberry começou a ser publicado em bancas no Brasil e colecionei até o último número publicado na época.
Depois disso, colecionei a série francesa Arthur, Losers, Local e o que saiu de Queen and Country, todas muito boas.
Fale bem da Image e do Jim Lee perto do Nemo e ele reagirá assim.

Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Gibi novo, não, só releio o que comprei ou baixei ilegalmente há algum tempo (entre os quais coisas como Fury Max, Demo, O Cume dos Deuses, The Activity, Hawkeye do Matt Fraction e David Aja, coisas do Marcelo Quintanilha etc).


Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

Nemo ao ver um gibi da Image
El Fanzine... não, sacanagem. Fora de ordem: A Balada do Mar Salgado (Hugo Pratt); Watchmen (Alan Moore e David Gibbons); Homem Animal (o arco de histórias com roteiro de Grant Morrison);  Jar of Fools (Jason Lutes), Black Hole (Charles Burns); Batman: Ano Um (Frank Miller e David Mazzuchelli); A Queda de Murdock (Frank Miller e David Mazzuchelli de novo), Um Bairro Distante (Jiro Taniguchi); Queen & Country (Greg Rucka e vários desenhistas) e Summer Blonde (Adrian Tomine).
Hoje são esses. Pode ser que amanhã eu mude de idéia ou lembre de algum que esqueci.

Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

"O Rob Liefeld já foi. Agora só falta você, Jim Lee, seu filho da puta!"
Comecei em 2008, quando frequentava o curso de Quadrinhos da escola Impacto do Rio, em Botafogo. Comecei justamente com o El Fanzine, fundado ali com os colegas ABC e Tito Camello, que continuam no gibi, e F. Montenegro e Jailson Chagas, que já saíram. Até então tinha desenhado somente em canto de página de livros e cadernos escolares, mas nunca uma história inteira digna do nome. Abandonei o curso no meio, mas o El Fanzine acabou sobrevivendo.
Paticipei de todas as edições do El Fanzine. Ilustrei roteiros de Vagner Francisco, A. Moraes, Gian Danton e Maurício Santoro. Colaborei também com Leonardo Santana, mas acho que o projeto - que envolvia vários desenhistas - desandou. Disponibilizei gratuitamente algumas das minhas histórias no site Quadrinhópole. Estou trabalhando em mais uma HQ com Vagner Francisco, uma com Leonardo Mello e uma com Alexandre Lobão, todas atrasadas por culpa minha...

Consegue listar suas principais influências?

Vou esquecer alguns, outros ainda nem conheço, outros gosto demais mas acho que não chegam a influenciar o que faço, mas é mais ou menos isso: as principais talvez sejam Frank Miller, Hugo Pratt, Will Eisner, Robert Crumb, Charles Burns, Hergé, Moebius, George Perez, Jaques Tardi, John Buscema, Mike Zeck, Eduardo Risso, Roberto Raviola (Magnus)...
No cinema, gente como Sam Peckinpah, Martin Scorsese, Sergio Leone, David Cronenberg, John Ford etc.
Nas artes plásticas, vários, mas cito só o Edward Hopper (gênio!) pra não parecer pretensioso já que não chego aos pés deles.
Na literatura, vários, mas são tão melhores do que eu que dá até vergonha de citar.
Isso não quer dizer que o talento desses caras apareça no que eu faço. Provavelmente eles limpariam a bunda com minhas páginas.

Alguma mania na hora de fazer quadrinhos?

Acho que o fato de raramente desenhar mais do que um quadrinho por dia e mesmo assim nunca dois quadrinhos em uma mesma página, sempre cenas diferentes em páginas diferentes, bem distantes entre si no roteiro original. Também uso pouco o lápis, esboço muito toscamente cada cena e passo direto para o nanquim. Além disso, dificilmente uso referências, a não ser que tenha que desenhar algo bem específico de algum universo ficcional ou período histórico.
Também não escrevo roteiros, penso no roteiro de uma forma meio vaga e vou ilustrando, quase no improviso.  Gosto de pensar em roteiros no ônibus ou correndo, sempre fazendo outra coisa. E gosto de desenhar com a TV ligada.  Música me distrai, eu paro de desenhar pra ouvir, batucar ou cantar junto, é foda.

Como fazer para seguir você na Internet?

Sigam meu Tumblr, meu blog ou entrem em contato comigo pelo e-mail rodnemo@gmail.com.

terça-feira, 18 de março de 2014

Vagner Francisco, o quinto elemento

A partir de hoje, o blog do El Fanzine trará de vez em quando um perfil de cada um dos autores do gibi. O perfil de estreia é do roteirista Vagner Francisco, um veterano dos quadrinhos independentes, que embora não seja um dos editores do ElF é praticamente o 'quinto elemento': já colaborou com o El Fanzine 3, com uma história de seu personagem Val ilustrada por Tito Camello, e terá uma história original com outros personagens no número 4, desta vez ilustrada por Pato Vargas. Siga com o perfil de Vagner Francisco, com as perguntas do blog em negrito e as respostas do autor em letras claras:


'Mugshot' de Vagner Francisco
Onde você nasceu e onde mora hoje?

Cambé, no Paraná e hoje moro em Itapema, litoral de Santa Catarina.

Conte um pouco do seu primeiro contato com os quadrinhos. Lembra do primeiro gibi que leu?

Difícil dizer exatamente qual o primeiro gibi lido, porque em minha casa sempre havia revistas em quadrinhos. Tenho um tio que, se vai viajar, compra uma tonelada deles para ler no caminho. Principalmente do Popeye. Outro, mais novo, vivia desenhando os personagens do Mauricio de Sousa – Bidu, principalmente. Os filhos deste, hoje, curtem mangá. Minha mãe assistia aos filmes do Super-Homem, nos cinemas, quando criança. E eram os estrelados pelo George Reeves. Minha irmã mais velha lê Turma da Mônica até hoje. Eu mesmo já embarquei nessa com Capitão América e Heróis da TV.  Então, vou eleger um que me lembro vagamente de ter lido, mas como é de super-herói, tenho absoluta certeza de que foi comprado por mim: Capitão América # 27, da Editora Abril (O que aconteceria se o Capitão América não tivesse sido congelado?).
Não, Vagner Francisco não cita esse filme.
Ele só está aqui porque 'QUINTO', sacou?

Depois desse primeiro gibi, como se desenvolveram seus hábitos de leitura em quadrinhos e como eles mudaram ao longo do tempo? Quais gibis você leu com regularidade? Colecionou alguma série?

Na infância e boa parte da adolescência, Capitão América, Heróis da TV, He-Man, Homem-Aranha, Super-Homem - na reformulação perpetrada pelo John Byrne. Na adolescência, e após, X-Men, até me deparar com um certo mago inglês e as Graphic Novels.



Não, Vagner Francisco não cita esse gibi:
ele só está aqui porque 'QUINTO', sacou?


Lê algum gibi regularmente hoje em dia?

Leio muitos. Ao menos um por dia. Geralmente escolho autores. Ed Brubaker + Steve Epting = Velvet; coisas antigas do Moore; Esquadrão Supremo, do Mark Gruenwald; Fury MAX, do Garth Ennis; The Boys e coisas aleatórias que acho interessantes também.




Não, Vagner Francisco não é um caubói.
Essa imagem... ah, você já sabe.

Se tivesse que listar os 10 melhores gibis que já leu, quais seriam?

1. Watchmen.
2. V de Vingança.
3. Miracleman.
4. Poder Supremo.
5. The Boys.
6. Os Invisíveis.
7. Akira.
8. Animal.
9. Druuna.
10. Fritz, the Cat.
Há mais: X-Men, de Claremont & Byrne. Superman, do Byrne. Lobo Solitário. Ronin, do Frank Miller. Hagar, o Horrível. A Turma do Charlie Brown. Asterix. Hellblazer. Tex. E por aí vai...

Quando e como começou a fazer quadrinhos independentes? Consegue listar tudo o que produziu até hoje como autor independente?

Não, Vagner Francisco não joga
futebol americano. Essa imagem etc.
Comecei quando estava na sétima série, na escola. Um colega vivia me pedindo para criar personagens. Eu criava e ele gostava. Quando criava algum parecido com outro já existente, ele me alertava “esse tá parecido com fulano”. E assim ia. No ano seguinte, mudei de escola e acabei bolando um fanzine com a tur
ma, chamado Turma da Pesada.
De produzir, foi muita coisa. Entre 1990 e 2000, a maioria ficou em casa mesmo, sem ninguém conhecer. De 2000 em diante, a coisa mudou de figura: Frank & Walter – It’s My Life (2000); Val (2001); Trabalho Duro---, No Congestionamento e Assombrado (2002); Val na Areia Hostil (2003, 04 e 05); Major Brasil – Cidade Fantasma (2005); Val # 01 – impresso (2007); Major Brasil – Hóspede Maldito, Val # 02 – Revolução impresso (2008); Os F.E.D.E.R.A.L. one shot (2008); Ogiva # 01 (2008); Val # 03, Val Tetralogia # 01 (2009), 02 e 03 (2010), 04 (2012); Major Brasil – A Conspiração (2010); Encontro com o Terror, Val – Crise das Infinitas Cópias, Frank & Walter – Atire para Assustar (2011); Billy The Kid, Cruzada (2012); Joe, o Mendigo (2013); #terror (2014) e desde 2013, a webcomic seriada Desmortos.
Aqui http://issuu.com/vagner_francisco consta a maioria. E vem mais por aí.

Consegue listar suas principais influências?

Vagner Francisco não vive ao
relento, essa imagem...ah, foda-se!
Roteiristas: Alan Moore; J. Michael Straczinski; Garth Ennis; Watson Portela; Paolo Serpieri; Mark Waid; Kevin Smith; Crumb; Will Eisner, Antonio Segura; Brian Bendis (exclusivamente em Alias).
Escritores: Stephen King; Chuck Palahniuk; Charles Bukowski.
Roteiristas de outras mídias: Bráulio Mantovani; Carlos Lombardi; David S. Goyer; Chuck Lorre; James Vanderbilt; Jorge Furtado.
Diretores/autores/realizadores de cinema também me influenciam: Michael Mann; David Cronenberg; Paul Verhoeven; David Fincher; Guilhermo Del Toro; Robert Rodriguez.
Desenhistas: John Romita Jr.; Frank Quitely; Jack Kirby; John Buscema; Shimamoto; Watson; Steve Epting; Gary Frank; Moebius; John Byrne; Kevin Maguire; Adam Hughes; Crumb; José Ortiz; Jordi Bernet; Alan Davis.

Alguma mania ou peculiaridade na hora de produzir quadrinhos?

Não, Vagner Francisco não é um idoso,
essa imagem...não preciso repetir, preciso?
Muitas manias. Não consigo escrever no absoluto silêncio; não consigo escrever com alguém no mesmo cômodo que eu; antes de criar qualquer coisa, eu preciso dar uma volta para qualquer lugar, sozinho. À noite, melhor ainda. As idéias vão aparecendo a cada passo.
Quando sento à mesa para começar a escrever, sinto uma espécie de barreira de preguiça, me segurando, tentando me impedir de escrever. Então, preciso sempre superar aquilo, com disciplina e paciência.


Como seguir você na Internet?

Meu blog, com a maioria de minhas HQs: vagnerfrancisco.blogspot.com.br.
Página de Desmortos no Face: facebook.com/desmortos
Página 111 HQs (minha nova usina de webcomics) no Face: facebook.com/111hqs